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Com o refluxo dos autores ingleses trazidos pelos pré-românticos alemães, sobrevém uma arte mergulhada em paradigmas incomuns. A Fantasia poética apresentava três componentes. Primeiro, uma ambiência noturna, carregada de misticismo, satanismo, ritualismo. Segundo, uma visão depressiva, sarcástica, alienada. Terceiro, uma melancolia, um pessimismo e um desepero. É o resultado desse mergulho indisciplinado nas esferas íntimas e sentimentais, sem referenciais. Em conseqüência, o sujeito cai em lamúria e doença, cuja degeneração moral e física é patente. Como o entorno está ligado à representação da subjetividade, daí Sentimentalismo, a atmosfera adoece com o sujeito, e todos os seres possuem alguma dimensão patológica e fúnebre ou distúrbios de comportamento. A morte é a ameaça constante que pode arrebatar a qualquer um, como sinal de interferência de forças imprevistas. É a predominância do Grotesco sobre o sublime. Leia-se o que Victor Hugo ambiciona em 1832:
"O grotesco tem um papel imenso. Aí está por toda a parte; de um lado, cria o disforme e o horrível; do outro, o cômico e o bufo. Põe a redor da religião mil superstições originais, ao redor da poesia, mil imaginações pitorescas. É nele que semeia, nas mancheias, no ar, na água na terra, no fogo, estas miríades de seres intermediários...; é ele que faz girar na sombra a ronda pavorosa do sabá, ele ainda que dá a Satã os cornos, os pés de bode, as asas de morcego. É ele, sempre ele, que ora lança no inferno cristão estas horrendas figuras que evocará o áspero gênio de Dante e de Milton, ora o povoa com estas formas ridículas no meio das quais se divertirá Callot, o Michelangelo burlesco."
(HUGO. V. Prefácio a Cromwell. São Paulo: Perspectiva, 2002; p. 30-31)
O pobre diálogo que uma estética auto-centrada como o Sentimentalismo conseguiu promover foi com a amada do poeta. É claro que a apoteose de uma ênfase no sentimento daria conta de discursar sobre o amor, evidentemente em sua versão erótica. O diálogo não foi planejado, mas inevitável como forma de realizar, embora frouxamente, a relação amorosa. Focalizado no sujeito, o discurso não envereda pela pessoa amada, nem se põe na tensão entre amante e amada. Sem conceder voz a ela, o sujeito cria a ilusão de que ela o despreza. E vive numa angústia incessante. Pelo silêncio, a amada toma dimensão de enigma, de esfinge, porque seduz o amante a descobrir seus mistérios fantasiados pelo próprio sujeito: o que ela pensa? o que ela faz? o que ela sente? por que não fala? O amante não faz a mínima idéia da armadilha que ele mesmo preparou para si.
Como a ênfase do discurso recai permanentemente no sujeito, há quem defenda o narcisismo dessa relação amorosa, reduzindo, mais uma vez, qualquer elemento do entorno a uma parte da subjetividade. Cabe ressaltar que por vezes essa auto-identidade não chega a tal intensificação, preservando a amada, ainda que modestamente, como a interface para o diálogo, mínimo que seja. Qualquer pequena diferença, dadas as possibilidades de manifestação do humano, já identifica duas presenças, provavelmente de dois seres.
Sua angústia devido ao desprezo da amada e seu sofrimento devido ao mergulho indisciplinado na subjetividade conferem um sentido trágico da existência, muito precioso a essa estética, quando bem feita. É por onde podemos redimi-la. Mas logo esse sentido trágico será levado às últimas conseqüências, gerando o pieguismo do Ultra-Romantismo mais tardio.
Por vezes, esse manancial noturno ganha contornos de fantasticidade e transcendência, devido ao forte domínio do suspense e ou do terror de suas fontes mórbidas. Nesse caso, a morte e outras forças impalpáveis adquirem carga mística e deixam de ser meros acidentes.
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